A Securities and Exchange Comission (SEC),
órgão que regula o mercado de ações nos Estados Unidos (EUA), acusou a
minerdadora Vale de enganar investidores sobre a segurança de suas barragens
entre 2016 e 2019. A denúncia divulgada nesta quinta-feira (28) foi apresentada
ao Tribunal Distrital dos EUA para o Distrito Leste de Nova York.
Conforme a acusação, auditorias foram
manipuladas para emissão de certificados de estabilidade fraudulentos,
escondendo a real situação de diversas estruturas, entre as quais a que se
rompeu em Brumadinho (MG), causando 270 mortes e danos ambientais e sociais em
diversos municípios da Bacia do Rio Paraopeba. A SEC sustenta que, após o
episódio, a mineradora perdeu mais de US$ 4 bilhões na sua capitalização de
mercado, gerando prejuízos para aqueles que adquiriram seus títulos.
“Há anos, a Vale sabia que a barragem de
Brumadinho, construída para conter subprodutos potencialmente tóxicos das
operações de mineração, não atendia aos padrões internacionalmente reconhecidos
de segurança de barragens. No entanto, os relatórios de sustentabilidade
públicos da Vale e outros registros públicos garantiram fraudulentamente aos
investidores que a empresa aderiu às ‘mais rígidas práticas internacionais’ na
avaliação da segurança de barragens e que 100% de suas barragens foram
certificadas como estáveis”, denunciou a SEC.
A Securities and Exchange Comission afirma que
os investidores não recebiam informações adequadas para fazer uma avaliação de
riscos. De acordo com a SEC, a Vale levantou mais de US$ 1 bilhão com os
títulos negociados Bolsa de Nova York. A mineradora deverá ser julgada por
violar disposições antifraude e leis federais de valores mobiliários, podendo
ser condenada a restituir com juros os prejuízos, além de outras penalidades.
A emissão de laudo de estabilidade falso foi
apontada em diversas investigações feitas no Brasil sobre a tragédia de
Brumadinho. Na primeira etapa do inquérito da Polícia Federal, concluído em
setembro de 2019, foram indiciados sete funcionários da Vale e seis da Tüv Süd,
consultoria alemã que assinou o laudo de estabilidade da barragem. Eles foram
acusados de falsidade ideológica e uso de documentos falsos, por ignorar os
parâmetros técnicos adequados e forjar os relatórios de inspeção e a declaração
de estabilidade.
A denúncia do Ministério Público de Minas
Gerais (MPMG) que resultou na ação criminal aberta na Justiça mineira também
apontou conluio entre a Vale e a Tüv Süd, que teriam escondido do poder público
e da sociedade a real situação da barragem. Esse processo, no entanto, foi
paralisado, em meio a discussões sobre a competência do tribunal estadual para
julgar o caso. Relatórios das comissões parlamentares de inquérito (CPIs) da
Assembleia Legislativa de Minas Gerais, da Câmara dos Deputados e do Senado
também apontaram manipulação do laudo de estabilidade.
A contestação da validade da declaração que
atestava a segurança da barragem também chegou aos tribunais alemães, onde a
Tüv Süd é alvo de um processo movida por atingidos. A própria Comissão de Valores
Mobiliários (CVM), órgão equivalente à SEC no Brasil, acusou, em abril do ano
passado, dois ex-executivos da mineradora pela não observância de seus deveres
fiduciários.
Em nota, a Vale negou as alegações da SEC e
afirmou que se defenderá vigorosamente. “A Companhia reitera o compromisso que
assumiu logo após o rompimento da barragem, e que a tem guiado desde então,
para a remediação e a reparação dos danos causados pelo evento”, acrescentou.
Em outubro do ano passado, a mineradora já havia informado ao mercado que
recebeu notificação da SEC sobre o início de investigações.
No último dia (27), a Vale divulgou seus
resultados financeiros do primeiro trimestre de 2022, reportando um lucro de
US$ 4,458 bilhões, 19,6% a menos que o registrado no mesmo período de 2021. A
mineradora também anunciou um novo programa de recompra de suas ações
ordinárias negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo. Nos próximos 18 meses,
a Vale deverá readquirir volume de papéis equivalente a até 10% do capital.
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