Virologista, militar, mãe...
Desde janeiro que trabalha no Instituto de Virologia de
Wuhan, laboratório envolto em teorias da conspiração, onde terá sido injetada
com uma versão da vacina, antes dos testes de segurança.
Quando Chen Wei aparecia na
televisão, o seu filho corria para beijar o ecrã. A criança tinha então quatro
anos e a mãe, com 37, estava em isolamento há vários meses a desenvolver um
spray nasal que iria revolucionar o combate à SARS, a síndrome respiratória
aguda grave, doença causada não pelo novo, mas por um velho e (agora) conhecido
coronavírus.
Dezassete anos depois, o filho de
21 anos já não corre para a televisão, mas a major-general Chen Wei continua a
estar longe da família, instalada no Instituto de Virologia de Wuhan, um
laboratório envolto em todo o tipo de teorias da conspiração. Por lá, está a
trabalhar numa vacina para o SARS-CoV-2 — este sim um novo coronavírus que, até
ao momento, provocou a morte de mais de 8 mil pessoas em todo o mundo — e na
segunda-feira à noite, 16 de março, teve luz verde para começar os ensaios
clínicos.
“Naquela altura, só a
conseguíamos ver na CCTV. Então, o meu filho saltava e beijava o ecrã de cada
vez que a mãe aparecia num programa televisivo”, conta Ma Yiming, marido da
epidemiologista, numa reportagem passada na televisão estatal chinesa, o mesmo
canal que o filho beijava nos idos de 2003.
O potencial de Chen Wei sempre
foi óbvio para o seu marido e logo nos primeiros anos de casamento, num país
que ainda vê o homem como a figura mais poderosa da família, Ma Yiming chamou a
si as tarefas domésticas para que a mulher pudesse prosseguir com o seu trabalho
de investigação.
“Não a quero a fazer tarefas
domésticas, seria uma perda do seu talento. Em vez disso, ela deve estar a
fazer um trabalho com verdadeiro significado”, explicava o marido numa
reportagem mais antiga da CCTV. É que esta não é a primeira vez que Chen Wei está
sob os holofotes e que a imprensa chinesa conta a sua história. Se agora a sua
equipa parece ser a mais promissora na corrida ao desenvolvimento de uma vacina
contra o SARS-CoV-2, muitos outros vírus travaram batalhas com a alta patente
do Exército Popular de Libertação. E perderam.
“Eu acredito no amor.” O lado
intimista da militar que injeta vírus no próprio corpo
Foi em abril de 1989 que Ma
Yiming, de 35 anos, viu pela primeira vez a jovem de 23, estudante de
Engenharia Bioquímica na Universidade de Tsinghua. Eram dois estranhos sentados
no mesmo comboio, sem nada que os ligasse. Mas aquele 28 de abril (e os
solavancos na linha férrea) é uma data não esquecem. A estudante ia escalar o
Monte Tai, na província de Hubei, uma das montanhas sagradas da China e
importante local de peregrinação. O jovem empresário do setor vinícola
regressava de uma viagem de negócios a Pequim.
“O comboio estava lotado e o meu
lugar era perto do cruzamento de duas carruagens. Ela só apareceu quando o
comboio estava prestes a partir e os meus olhos iluminaram-se”, contou Ma
Yiming, em 2012, à revista Women of China. Acabaram por fazer a viagem próximo
um do outro e nunca pararam de conversar. No final, combinaram um encontro para
breve em Pequim. E foi aí, na capital chinesa, que perceberam que não podiam
estar um sem o outro.
Três anos depois casaram-se,
apesar da oposição dos pais de Chen Wei que não consideravam que o futuro genro
estivesse à altura da sua filha. E em 1999 nasceu o primeiro filho do casal, o
mesmo que viria a beijar a imagem da mãe na televisão.
À mesma publicação, que escreveu
um perfil da militar quando esta venceu o Prémio Para Mulheres na Ciência 2011,
Chen Wei mostrou um outro lado, bem diferente da imagem que em 2020, em plena
pandemia, corre as redes sociais chinesas: uma militar leal ao Partido
Comunista Chinês, capaz de injetar em si própria uma vacina experimental antes
mesmo de ser testada. “Acredito no amor à primeira vista, acredito no amor, e
acredito que se duas pessoas estão destinadas a estar juntas, irão
encontrar-se”, disse então a virologista.
Teste de lealdade ou encenação?
Tal como a revolução, também a
injeção de Chen Wei não foi televisionada. Na CCTV não passaram quaisquer
imagens do acontecimento, mas na página oficial do Exército Popular de
Libertação no Weibo (rede social chinesa semelhante ao Twitter) as imagens
foram partilhadas no início de março.
Numa sala descaracterizada, com a
bandeira do Partido Comunista Chinês em pano de fundo, vê-se a virologista. Com
o seu fato militar camuflado, e de mão esquerda na anca, Chen Wei recebe uma
injeção, alegadamente da vacina contra o coronavírus, ainda antes dos testes em
animais. Numa outra imagem, surgem sete militares, a equipa de investigação de
Chen Wei, que terá toda ela recebido a vacina.
Depois de começarem as críticas,
a imagem desapareceu da página do Exército Popular de Libertação. Mas os print
screens vivem para sempre e a imagem deu a volta ao mundo antes mesmo de os
militares conseguirem soletrar SARS-CoV-2.
A atitude foi vista de duas
maneiras. A primeira, como uma forma de Chen Wei mostrar a sua lealdade ao
regime e mostrar que China está na dianteira do combate à Covid-19 — o que
gerou tanto aplausos como vaias, consoante a posição política de cada
internauta. A segunda, mais complexa, defende que tudo não passou de uma
encenação, algo que cai como cereja no topo do bolo dos defensores da teoria de
que o novo coronavírus foi feito em laboratório.
Laboratório de Wuhan. Nível de
Biossegurança 4
A 26 de janeiro, Chen Wei e a sua
equipa chegavam a Wuhan, capital da província de Hubei, o ground zero da atual
pandemia. Não foram diretos para o Instituto de Virologia, começaram antes por
se instalar numa tenda equipada para o efeito. Mas o destino era inevitável e
uns dias mais tarde o seu local de trabalho passava a ser dentro do instituto,
no primeiro e único laboratório de biossegurança de nível 4 na China
continental, inaugurado em 2015.
Existem quatro níveis de
biossegurança (NB-1, NB-2, NB-3 e NB-4), relacionados com o grau de contenção e
a complexidade do nível de proteção envolvidos. No nível 4, trabalha-se com
agentes infecciosos que podem ser transmitidos via aerossóis e que não têm
nenhuma vacina ou terapia disponível. São normalmente instalados em zonas
isoladas, com uma complexa e especializada ventilação e sistemas de lixo
próprios.
O facto de um laboratório de
nível 4 estar localizado em Wuhan, onde começou a propagação do vírus, levou à
propagação de uma ideia igualmente viral: o SARS-CoV-2 estaria a ser criado em
laboratório e uma brecha na segurança teria permitido que o vírus escapasse
para a região. Nunca tal foi provado, mas a imagem da injeção foi quanto bastou
para reforçar a crença de quem acredita que o coronavírus é uma arma biológica
e que a vacina está há muito criada.
A mata-SARS, mata-ébola,
mata-tudo
No vasto currículo de Chen também
se pode ler que é especialista em vacinas geneticamente modificadas. O seu
percurso académico conduziu-a aí, embora inicialmente a sua ideia fosse seguir
a carreira docente.
Em 1991, formou-se na Universidade
Tsinghua, em Pequim, e, como tinha por objetivo servir o exército, desejo que
cumpriu nesse mesmo ano, ingressou na Academia de Ciências Médicas Militares.
Foi ali que obteve o seu doutoramento em 2008. Chegou ao cargo de diretora de
laboratório, e durante uma década liderou a equipa que desenvolveu a primeira
vacina recombinante — obtida por engenharia genética, como a da Hepatite B — a
ser incluída na reserva estratégica nacional. Esse feito valeu-lhe um pedestal
no seu campo de investigação.
O sucesso continuou. Em 2003,
durante a epidemia de SARS, desenvolveu um spray que permitiu que milhares de
profissionais de saúde não contraíssem o vírus (e que lhe valeu um prémio
nacional de invenção tecnológica), proteção que, seguindo os seus conselhos,
também foi usada em Wuhan. Para o momento atual, o spray tem um problema: é
demasiado caro para ser produzido em larga escala.
“Na ausência de medicamentos
específicos, alguns profissionais de saúde que estão na linha da frente estão a
usar este fármaco. No entanto, devido à complexidade técnica deste spray nasal,
ainda não foi produzido em larga escala”, explicou Chen Wei numa entrevista
recente à China Science News, garantindo que se o país achar que o spray pode
ser usado como material de emergência, a sua equipa tem capacidade para
produzi-lo.
“A vacina é a arma científica
mais forte para acabar com o coronavírus”, dizia em declarações à CCTV. “Se a
China for o primeiro país a inventar essa arma, e a ter as suas próprias
patentes, isso mostra o progresso de nossa ciência e passa a imagem de um país
gigante.” Os objetivos da virologista, que em Wuhan também tem estudado a
transfusão de plasma de pacientes doentes para novos pacientes infetados, são
claros: encontrar a cura e elevar o poderio científico da República Popular da
China. “A epidemia é como uma situação militar. O epicentro é equivalente ao
campo de batalha ”, disse.
Os seus esforços de investigação
não têm sido apenas focados nas doenças que afetam o seu país. Em fevereiro de
2014, durante o surto de Ébola na África Ocidental, liderou uma equipa que
tentou desenvolver uma vacina contra o vírus. Em apenas quatro meses,
desenvolveram a primeira vacina do genótipo Ébola do mundo para a fase de
ensaios clínicos, ou seja, testes em humanos. Os de fase 1, em indivíduos
saudáveis, mostraram que a vacina de nova geração era segura e eficaz.
“Em 19 de outubro de 2017, a
vacina desenvolvida pela nossa equipa tornou-se o primeiro lote da primeira
vacina de Ébola de nova geração [a ser] aprovada no mundo”, afirmou Chen ao
site China Story quando em 2018 voltou a África na sequência do surto de Ébola
na República Democrática do Congo.
E agora? Começam os testes em
humanos saudáveis
Antes de qualquer teste em
humanos, como os que agora a equipa de Chen Wei vai iniciar para procurar uma
cura para o coronavírus, uma potencial vacina tem de passar pelos testes em
laboratório, onde são analisados os novos compostos, pelos testes pré-clínicos,
onde é avaliada a segurança e eficácia, e finalmente pelos estudos de
toxicidade in vivo em animais. Só depois se entra na fase de ensaios clínicos,
ou seja, testes em humanos.
Foi essa aprovação que Chen Wei
conseguiu na segunda-feira à noite — decisão anunciada pelo próprio Governo
chinês em comunicado. Essa medida indica que a segurança, eficácia e qualidade
da vacina terá sido atingida.
Chega-se assim aos testes em
humanos. Num estudo clínico, a fase I refere-se ao uso do medicamento pela
primeira vez num ser humano (saudável e sem a doença que está a ser estudada).
Na fase II, estudam-se cerca de 100 a 300 indivíduos com diferentes dosagens.
Na fase III, acompanham-se milhares de pacientes por um período maior de tempo
e o voluntário recebe ou o novo tratamento ou o placebo. Há ainda a fase IV, a
farmacovigilância, que serve para recolher detalhes adicionais sobre a
segurança e a eficácia do produto, como efeitos colaterais.
Cada uma destas fases leva o seu
tempo e, se demorar vários meses até se chegar à fase III, o principal risco é
não haver doentes suficientes para se fazer o ensaio em grande escala. “O que
precisamos de construir é um poderoso sistema de ‘cientistas líderes’, de forma
a que eles possam passar a sua vida a estudar e a investigar determinados tipos
de vírus e germes, independentemente de este coronavírus desaparecer ou não”,
disse Chen Wei, na entrevista ao China Science Daily.
Para a virologista, a gestão da
saúde pública na China tem um antes e depois da SARS — momento a partir do qual
o país começou, na sua opinião, a investigar seriamente a prevenção e
tratamento de doenças infecciosas. E não tem dúvidas: “o isolamento mais
primitivo é o melhor caminho” para combater a propagação dos agentes
infecciosos.
Como militar, está longe de dar a
vitória como assegurada. “Existem vários tipos de vitória, a primeira é a
erradicação. Esta é a ideal e o objetivo dos nossos esforços. No entanto, muito
poucas doenças infecciosas foram erradicadas na história humana, como a varíola
e a poliomielite”. O segundo tipo de vitória, continua, foi a que teve sobre a
SARS. “Em 17 anos, não voltou a surgir nenhum vírus com a mesma sequência. O
terceiro tipo [de vitória] é como o H1N1: apesar de controlarmos a pandemia do
ano, ela existirá, de tempos em tempos, em certa escala de epidemia.
Atualmente, esse vírus é usado como um componente da vacinação de rotina contra
a influenza para bloquear a continuação da epidemia.”
Mesmo que o sabor a vitória
comece a ser pressentido, já que o ponto de inflexão da pandemia parece
aproximar-se na China, isso não leva a que Chen Wei descarte o aparecimento de novos
surtos da doença. A sua maior preocupação? “Um hospedeiro intermediário, que
ainda não foi encontrado, e ainda pode estar a desempenhar o seu papel no
surto.”
Olá saudações, mais uma vez, escrevo para informar que posso curar qualquer tipo de
ResponderEliminardoença que você pode ter
1: HIV
2: EBOLA
3: RECUPERE SEU EX
4: PRECISA DE UMA CRIANÇA
5: EMPREGO
6: VISA
7: CÂNCER
8: PRECISA DE UM MARIDO
ETC
Esta planta milagrosa. Quem quiser mais informações ou como
obtê-lo pode fazê-lo entrando em contato com o Dr. Peter Va Email
peterspellcaster @ gmail.com, ou whatsapp +2348060894953, estou à sua disposição
para esclarecer todas as suas dúvidas e qualquer informação que desejar saudações