No Congresso Nacional, os
celulares em punho são onipresentes: filmando discursos no plenário,
registrando atos ou transmitindo ao vivo entrevistas à imprensa. As fotos e
vídeos vão direto para as redes sociais dos parlamentares. A prática, que já
era comum, ficou ainda mais recorrente e ganhou outras proporções na atual
legislatura – boa parte eleita mais com a ajuda das novas mídias e menos
gastando sola de sapato nas tradicionais campanhas de rua. Se no período
eleitoral as redes foram fundamentais para os então candidatos, agora, elas se
tornaram uma ferramenta de trabalho indispensável dos parlamentares, tanto para
interagir com os eleitores como para prestar contas do mandato. Os seguidores
estão na casa dos milhares e, às vezes, dos milhões. Fazer enquetes sobre
votações ou assuntos polêmicos virou algo corriqueiro. O caso mais emblemático
foi o do senador Jorge Kajuru (PSB-GO), que decidiu em quem votaria para
presidente do Senado após consultar os internautas.
Online.
Até mesmo reuniões a portas fechadas
vão parar nas redes sociais. Quando o presidente da República, Jair Bolsonaro,
foi à Câmara levar a proposta de reforma da Previdência, foi recebido no
gabinete do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A imprensa não teve o
acesso liberado, mas tudo o que se passava lá dentro pôde ser acompanhado ao
vivo pelas páginas de alguns deputados, como a do Capitão Augusto (PR-SP). Ou
quando o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, se reuniu com
parlamentares para apresentar o seu projeto anticrime, o encontro foi veiculado
em tempo real nas redes de deputados da oposição. Quinta deputada mais bem
votada do Rio de Janeiro e famosa por ter 55 filhos (4 deles biológicos e os
demais adotivos), a pastora e cantora gospel Flordelis (PSD-RJ) também é adepta
das enquetes online. “Estou fazendo enquete agora sobre a questão da
Previdência para ouvir a opinião das pessoas. A cada semana, eu faço uma
consulta sobre um item específico da reforma. Rede social é superimportante.
Quem me elegeu foi o povo e preciso ouvi-lo. E a rede social acaba sendo uma
comunicação direta”, explica.
Transparência.
Uma das campeãs no Congresso em
popularidade nas mídias digitais, Flordelis conta que faz transmissões ao vivo
com frequência sobre coisas corriqueiras do dia a dia como parlamentar. “Quem
está de fora não tem ideia de como funciona aqui”, diz. Primeira mulher
indígena eleita deputada federal, Joenia Wapichana (Rede-RR) também usa as
redes para prestar contas aos eleitores. “Divulgo o que ando fazendo no dia a
dia. Coloco meus pronunciamentos, quem estou recebendo no meu gabinete, as
propostas que apresentei. É uma forma de as pessoas também se manifestarem e
saberem realmente se estou fazendo o que eu defendi que iria fazer”, explica. A
deputada Policial Katia Sastre (PR-SP) tem se dedicado para dar atenção aos
seus seguidores nas redes, criadas um mês antes da eleição em outubro. Policial
militar, ela entrou para a política após ficar conhecida ao reagir a uma
tentativa de assalto, quando estava de folga, na porta de uma escola em Suzano
(Grande SP) e atirar no assaltante, que acabou morrendo. A parlamentar afirma
que, no início, chegou a contratar uma empresa para responder aos seus
seguidores, mas que mudou de ideia em questão de dias. “Falei: ‘Tira isso, pelo amor de
deus’, porque não é aquilo. Eu não gosto que as pessoas recebam uma resposta
que não é aquilo que eu responderia. Já que as pessoas votaram em mim, elas têm
que saber o que realmente eu penso”, justifica. Ela conta que responde a todas
as mensagens, nem que “demore um pouquinho”. “Na maioria dos dias, depois que
eu chego em casa e as crianças dormiram, eu pego o celular e respondo uma por
uma. Geralmente, faço isso da noite para a madrugada. Às vezes, meu marido
senta do lado e eu vou respondendo e ele vai me ajudando. Eu falo as respostas
e ele digita, para dar conta”, diz. Para o deputado Fred Costa (Patri-MG), que
tem a proteção dos animais como principal bandeira, as redes sociais são
fundamentais para a sua atuação parlamentar. Por meio delas, chegam várias
denúncias de maus-tratos. “As redes sociais têm sido uma quebra de paradigma na
proteção de animais porque permite que os casos tenham eco nas casas
legislativas”, afirma.
G1
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