O Ministério Público Federal
denunciou sete pessoas envolvidas em um esquema milionário de fraudes contra
institutos municipais de previdência entre 2014 e 2018. Os empresários e
consultores envolvidos são parte do grupo investigado na Operação Encilhamento,
deflagrada em abril do ano passado pelo Ministério Público Federal em conjunto
com a Polícia Federal e a Receita Federal. As irregularidades baseavam-se em
investimentos que incluíam a aquisição de títulos privados sem lastro e
aplicações proibidas. Uma parte do dinheiro destinou-se à compra de ativos de
alto risco, enquanto outra foi desviada diretamente para os acusados. O esquema
gerou fortes prejuízos ao INX Barcelona, um fundo de investimentos composto por
recursos oriundos de regimes previdenciários de servidores municipais de dez
cidades em São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Santa Catarina e Amapá. O
empresário Edson Hydalgo Junior era peça central na execução das fraudes. Ele
não só administrava o INX Barcelona, como também foi um dos responsáveis pela
emissão de uma série de debêntures sem lastro ou garantias que o fundo viria a
adquirir entre 2014 e 2015. Em sociedade com Renato de Matteo Reginatto e Pedro
Paulo Corino da Fonseca, Edson mantinha três empresas de fachada (Columbia,
Berkeley e Pacific Holding e Participações), constituídas apenas para
viabilizar os desvios. Apesar de possuírem capital social não superior a R$ 15
mil, as companhias emitiram, em maio de 2014, títulos privados de dívida que
somavam R$ 60 milhões. As debêntures não foram lançadas publicamente, mas em
caráter reservado, destinadas somente ao INX Barcelona, que adquiriu quase
metade dos papéis ao longo dos meses seguintes. Da quantia arrecadada, as
empresas transferiram mais de R$ 16,2 milhões para contas bancárias e outras
pessoas jurídicas vinculadas aos três sócios. De junho a setembro de 2014, por
exemplo, uma companhia de Pedro Fonseca, a SP Precatórios, recebeu da Columbia,
da Berkeley e da Pacific um total de R$ 12,7 milhões pela venda de títulos
judiciais de cobrança, com ágio de 150% sobre o que havia pago por eles. Além
de configurar prejuízo aos cotistas do INX Barcelona, essa transação contrariou
normas do Conselho Monetário Nacional, que vedam o aporte de recursos de
regimes próprios de previdência em precatórios. Outra parcela dos recursos
também acabaria aplicada nesse tipo de título devido às obrigações previstas
nas escrituras de emissão das debêntures. Os documentos estabeleciam que as
cifras deveriam ser investidas integralmente no FIDC NP, um fundo cuja carteira
inclui precatórios e outros ativos de risco elevado. Ilegal e sem retorno
garantido, a opção só se justificava pelo esquema fraudulento em curso: os três
empresários também estavam por trás da gestão do FIDC NP. Dessa forma, eles
conseguiram controlar o fluxo do dinheiro em todas as etapas do negócio, desde
a captação das quantias milionárias até seu aporte final. O conflito de interesses e o investimento em
papéis proibidos não foram os únicos atos de gestão fraudulenta que Edson
Hydalgo Junior praticou à frente do INX Barcelona com o auxílio dos sócios. Em
2016, ele aceitou, sem contestações, mudanças nas previsões das debêntures que
prejudicariam ainda mais os cotistas do fundo previdenciário. Entre elas estão
a redução da taxa de retorno estipulada, o fim da possibilidade de liquidação
dos papéis antes do prazo final e a alteração na forma de pagamento dos ganhos,
prorrogando o vencimento de dezembro de 2019 para junho de 2021, sem a
incidência de juros. Também foram denunciados dois auxiliares de Edson no INX
Barcelona, Rafael Celso Lerer Goldenberg e Cristiano Ceccati, além de Rodrigo
Balassiano, responsável pela avaliação de risco das operações realizadas.
Completa a lista de envolvidos a mãe do empresário, Mirian Antonia Mercado
Hydalgo, acusada de falsidade ideológica por assinar documentos no lugar do
filho para ocultar a múltipla atuação dele em algumas fases do esquema. Esta é
a segunda denúncia que o Ministério Público Federal oferece contra investigados
na Operação Encilhamento. Desde julho do ano passado, quatro pessoas ligadas à
corretora Gradual já respondem a uma ação penal por prejuízos de R$ 41,5
milhões que causaram ao Regime de Previdência Privada do município de Campos de
Goytacazes (RJ) entre 2016 e 2017, também com base em debêntures sem lastro. A
ação tramita na 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo.
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