A forte desvalorização da lira
turca e a crise financeira no país mostram a vulnerabilidade de economias muito
dependentes de capitais estrangeiros.
Por enquanto, poucos analistas
preveem uma crise iminente - Dez anos após a pior crise financeira desde a
década de 1930, o crescente endividamento dos países em desenvolvimento pode
causar uma nova crise que se estenderá mais além da turbulência econômica da
Turquia. A perda da confiança do investidor na lira turca, que sofreu uma
desvalorização de mais de 40% este ano, é apenas uma prévia dos problemas que
podem atingir países como o Brasil, África do Sul, Rússia e Indonésia. “A crise
financeira na Turquia não é a última”, disse Sebnem Kalemli-Ozcan, professor de
economia da Universidade de Maryland. “É apenas o começo”. Por enquanto, poucos
analistas preveem uma crise iminente, apesar de a Argentina ter pedido um
adiantamento ao Fundo Monetário Internacional (FMI) do empréstimo de US$ 50
bilhões, em meio a uma grave crise cambial e à queda histórica do peso. Mas, segundo
um estudo da McKinsey, existe o risco de contágio em razão de uma dívida global
de US$ 169 trilhões, muito superior à de US$$ 97 trilhões na véspera da Grande
Depressão. As crises anteriores foram motivadas pela concessão de empréstimos
hipotecários de alto risco nos EUA e, mais tarde, por problemas financeiros de
países da União Europeia (UE), como a Grécia. Desta vez, a turbulência
econômica envolve empresas de mercados emergentes que se endividaram em dólares
e euros. Na Turquia, empresas e bancos fizeram empréstimos nos últimos anos
para financiar pontes, hospitais, usinas de energia elétrica e a construção de
um gigantesco porto. Os investidores estrangeiros, sobretudo os bancos
europeus, emprestaram dinheiro aos mercados emergentes com a expectativa de
retornos altos, no momento em que o Federal Reserve (Fed), o banco central
americano, e o Banco Central Europeu mantinham as taxas de juros baixas. “Era
nosso papel corrigir a bolha da dívida”, disse David Rosenberg,
economista-chefe da empresa canadense de gestão de patrimônio Gluskin Sheff.
“Mas criamos mais dívidas”. A situação pode se agravar com o vencimento dos
prazos de pagamento dos empréstimos. Em termos globais, US$ 10 trilhões de
títulos de dívida corporativa serão refinanciados nos próximos cinco anos, de
acordo com a McKinsey. Diversas medidas foram tomadas para evitar uma nova
crise financeira mundial semelhante à de 2008. As agências reguladoras dos EUA
exigiram que os bancos se comprometessem a manter reservas de emergência. Os
consumidores dos EUA reduziram suas dívidas. Na Europa, a UE obrigou os
governos com excesso de gastos públicos a adotarem programas de austeridade. No
entanto, a dívida aumentou. Os chineses lideram os pedidos de empréstimos entre
as economias emergentes, mas 95% dos títulos de dívida corporativa são emitidos
em yuan, o que diminui o risco financeiro, de acordo com o estudo da McKinsey. Porém,
para outros países que fizeram empréstimos em dólares e euros, com o aumento
das taxas de juros, os novos empréstimos ou o refinanciamento da dívida
existente ficarão mais caros. Isso pode gerar inadimplência entre os devedores.
Outros se mostram mais otimistas com o cenário econômico internacional. Adam
Posen, presidente do Peterson Institute of International Economics, disse que
fatores como saúde financeira dos credores, a capacidade dos devedores de
conseguir dinheiro com a venda de ativos e o aumento das taxas de juros
diminuem os riscos de uma nova crise da dívida. Na opinião de Posen, o Brasil,
México, Rússia, Indonésia e Índia têm condições de manterem-se estáveis
durante esse período de incerteza. Susan Lund, coautora do estudo da
McKinsey, também tem uma visão mais otimista. Segundo ela, a economia global
não sofrerá uma crise financeira tão profunda como à de 2008 a 2009. Ainda
assim, as consequências econômicas já estão sendo sentidas na Turquia, onde o
presidente Recep Tayyip Erdogan acusou os Estados Unidos de sabotar a lira e
travar “uma guerra econômica contra o mundo”. O aumento das tarifas de
importação de aço e alumínio da Turquia pelo presidente Trump causou a
desvalorização da lira turca em agosto. Mas antes da intervenção de Trump em
uma tentativa de libertar um pastor americano preso na Turquia sob a acusação
de conspirar contra o governo, a moeda vinha perdendo valor há meses. A taxa de
inflação da Turquia atingirá 22% até o final do ano. Sua economia sofrerá uma
recessão em 2019 pela primeira vez em dez anos, de acordo com os índices da
Standard & Poor’s. A crise financeira turca se refletirá em outros países
em desenvolvimento. “O crescimento global depende dos mercados emergentes”,
disse Lund. “A turbulência financeira nos países em desenvolvimento afetará a
economia mundial”.
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