O seminário foi realizado no
município de Imperatriz (MA).
Quais são as políticas públicas
voltadas para a Educação do Campo existentes no Maranhão? Como as Casas
Familiares Rurais (CFRs) funcionam e qual o papel delas na formação dos jovens
camponeses? É possível aproximar Pedagogia da Alternância (modalidade de
Educação do Campo) e Universidade? Estes foram alguns dos temas abordados no II
Seminário Tocantino da Pedagogia da Alternância, que ocorreu na última
quinta-feira, 12 de abril, no auditório da Universidade Estadual do Sul do
Maranhão (Uemasul), em Imperatriz (MA). O evento, que foi organizado pela
Associação Tocantina de Formação por Alternância e Desenvolvimento Rural
(ATAR), pela Justiça nos Trilhos e pelas quatro Casas Familiares Rurais (CFRs)
da região, reuniu educadores do campo, estudantes das CFRs, famílias e
professores universitários. A mesa de abertura do Seminário tratou sobre a
Educação do Campo no Brasil e no Estado do Maranhão, enfocando dois tipos de
metodologias presentes na Região Tocantina: a Pedagogia da Terra, representada
principalmente pelas práticas do Movimento Sem Terra (MST) e a Pedagogia da
Alternância, utilizada nas CFRs.
O Seminário reuniu estudantes das
CFRs, famílias, educadores e professores universitário (Foto: Idayane Ferreira)
“Educação do Campo: direito
nosso, dever do Estado”
A Educação do Campo surgiu em
contraposição ao conceito de educação rural e propõe não apenas a alfabetização
da população camponesa, mas uma formação que seja condizente com a sua
realidade, permitindo sua permanência qualificada no campo. As políticas públicas
voltadas para este tipo de Educação são resultado de um longo processo de luta
dos camponeses. No Maranhão, o diálogo sobre o Programa Nacional de Educação
nas Áreas de Reforma Agrária (Pronera) realizado entre a Universidade Federal
do Maranhão (UFMA) e o MST possibilitou as primeiras ações de alfabetização e
escolarização de jovens e adultos, em 1998. Francisco do Livramento Andrade,
assessor pedagógico da CFR de Açailândia, explica quais são as políticas
públicas voltada para a Educação do Campo existentes atualmente. “Hoje, nós
temos mais concretamente do ponto de vista institucional duas políticas de
formação: uma política que é o Pronera abrange várias áreas. E o Procampo
[Programa de Apoio à Formação Superior em Educação do Campo] que é mais para a
formação de professores”. Ele aponta que um dos maiores desafios nesses 20 anos
de consolidação da Educação do Campo ainda é o acesso às políticas públicas
“principalmente nesse momento que nós estamos vivendo, de um governo de
desmonte das conquistas. Outro desafio é a formação do nosso povo, nós
precisamos da formação de muitos profissionais e isso também perpassa o acesso
aos recursos, aos editais das políticas públicas. Precisamos formar a nossa
base, gente que está diretamente no campo para que assim possamos construir no
campo um espaço de produção de alimentos, de produção de vidas, de produção de
saberes”, afirma.
“A terra é para quem estuda
também”: CFRs e a Pedagogia da Alternância
Houve um tempo em que “ir pra
roça” era uma forma de ameaça às crianças que se interessavam pouco pelos
estudos e um ponto de vista retrógrado em relação ao campo. As Casas Familiares
Rurais demonstram na prática que a Educação do Campo contribui para o
desenvolvimento rural, para a produção agrícola mais qualificada e
consequentemente traz benefícios para o meio urbano também, uma vez que a
agricultura familiar é responsável pela maior parte da produção de alimentos em
nosso país.
Jovens relatam suas experiências
com projetos nas CRFs (Foto: Idayane Ferreira)
As Casas Familiares Rurais estão
presentes em cinco dos seis continentes e o Brasil é o segundo país em número,
com 252 CRFs, 19 destas ficam localizadas no Maranhão. A CFR mais antiga do
Estado é a de Coquelândia, que fica no município de Imperatriz e que atualmente
atende cerca de 50 estudantes. Na metodologia utilizada nas CFRs, os estudantes
alternam períodos de estudo como internos da escola com períodos de formação
com a família. Diferentemente de uma escola comum, as áreas de conhecimento são
destrinchadas a partir de temas geradores, partindo-se da prática para a
teoria. Tem por finalidade a “formação integral do ser humano e o
desenvolvimento dos meios locais”. A CFR é comunitária, gestada por uma
associação de agricultores. Ela funciona por meio de parcerias com o poder
público municipal ou estadual, que deveriam garantir a manutenção de equipes
pedagógicas (monitores) em tempo integral e de dedicação exclusiva. Atualmente
as CFRs têm enfrentado entre outros desafios a falta de financiamento e quando
este acontece, há dificuldade para manter sua autonomia política
administrativa.
“A dúvida é o princípio da
pesquisa”: proximidades entre a Pedagogia da Alternância e a Universidade Entre
os instrumentos pedagógicos utilizados nas CFRs está o chamado projeto
profissional ou de vida, quando os jovens devem planejar e executar um plano de
intervenção ou empreendimento nas terras de suas famílias. Os que estiveram
presentes no Seminário puderam conhecer as experiências de quatro desses
jovens. O mais novo deles, de apenas 17 anos, está realizando o processo de
reflorestamento de uma nascente, localizada na propriedade da família. “Ainda
estou no início, mas espero que a nascente seja recuperada”, afirmou Antônio,
da Casa Familiar Rural Padre Josimo, que atende os municípios de Bom Jardim,
Bom Jesus das Selvas e Buriticupu. Agenor é ex-aluno da primeira turma da CFR
Margarida Alves, de Amarante. “Eu queria criar galinhas, mas não tinha
dinheiro, então iniciei plantando hortaliças, pois as sementes eram mais
baratas. As pessoas ficavam impressionadas com o tamanho das folhas das couves
orgânicas [gigantes]. Vendi as hortaliças e apurei 600 reais que foi com o que
eu comecei a criação de galinhas”. Na falta de um aquecedor para os pintinhos,
o jovem improvisou construindo uma espécie de forno a lenha. Tanta
inventividade tornou seu projeto conhecido até fora do país. A mesa redonda de
finalização do Seminário propôs maior proximidade entre a Universidade e a
Pedagogia da Alternância (Foto: Idayane Ferreira). Francisco e Patrick
descreveram respectivamente as experiências com a apicultura e com a criação de
gado leiteiro. Os empreendimentos dos quatro jovens foram bem distintos, mas em
comum eles relatam que tiveram de vencer a desconfiança inicial dos pais e das
pessoas mais velhas. “Eu ouvi demais que só gente doida criava abelhas”, riu
Francisco. Após a apresentação dos jovens houve uma mesa redonda sobre as
possibilidades de aproximação entre a Universidade e a Pedagogia da Alternância
com a participação dos professores Dr. Francisco de Assis Carvalho de Almada
(Uemasul e UFMA) e Dra. Betânia Oliveira Barroso (UFMA). Além de relatarem um
pouco das suas experiências com relação à Educação do Campo, os professores
apontaram alguns caminhos possíveis para uma interação entre a Universidade e a
Pedagogia da Alternância como a realização de projetos de pesquisa e extensão,
de convênios entre as instituições para uma relação prática-teórica, estágios
supervisionados, entre outros. O Seminário trouxe só as primeiras inquietações:
É possível sim uma aproximação e o primeiro passo já foi dado!
Por Idayane Ferreira
Assessoria de Comunicação // Rede
Justiça nos Trilhos
Acesse: www.justicanostrilhos.org
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