Pense num Brasil vei
desmantelado, vejam o que escreveu Josias de Souza sobre o vice de Eduardo
Cunha:
A iluminação dos dados sobre as
contas suíças que Eduardo Cunha diz não possuir espalhou perplexidade pela
Câmara. A chegada à vitrine do cartão de crédito da senhora Cunha, com suas
cifras milionárias, borrifou na atmosfera um aroma de enxofre. O miasma permanecerá
no ar pelo tempo que durar a presidência de Cunha.
Esboça-se uma agonia longa. Mas
poucos acreditam que ela dure até a próxima troca formal de comando, em
fevereiro de 2017. Se Cunha abdicar da presidência, a Câmara terá de realizar
nova eleição no prazo de cinco sessões deliberativas. Não há substitutos
favoritos. Se Cunha pedir licença, assume o comando um deputado precário.
Você talvez nunca ouviu falar
dele. Chama-se Waldir Maranhão (PP-MA). É o atual vice-presidente da Câmara.
Responde a dois inquéritos no STF —ambos por suspeita de corrupção e lavagem de
dinheiro.
Num esquema, desbaratado pela
Operação Miqueias, da Polícia Federal, o vice de Cunha foi pilhado
relacionando-se com o doleiro Fayed Traboulsi, preso em 2013, sob a suspeita de
fraudar fundos de pensão de Estados e municípios em mais de R$ 300 milhões.
Noutro esquema, revelado pela
Lava Jato, Waldir Maranhão foi citado pelo doleiro-delator Alberto Yousseff,
preso em Curitiba, como um dos parlamentares do PP “cuja posição era de menor
relevância dentro do partido e que recebiam entre R$ 30 mil e R$ 150 mil por
mês” de mesada proveniente do petrolão.
A ficha corrida não é o único
problema de Waldir Maranhão. Tomado pelas entrevistas que concede e pelos
discursos que pronuncia na tribuna da Câmara, ele parece ser menor do que a
estatura da crise.
Maranhão é um político do tipo
que é capaz de falar durante horas sem dizer nada. O vídeo disponível no rodapé
exibe uma entrevista concedida em maio passado. Nela, o personagem fala sobre
sua ascenção à vice-presidência da Câmara. “É uma conquista do povo do
Maranhão, do povo brasileiro e, em particular, da minha pessoa enquanto
deputado federal reeleito, já no meu terceiro mandato.”
Sob suspeita de integrar a
bancada que recebia mesada da Petrobras, Maranhão falava de um Legislativo
independente. Expressando-se num idioma muito parecido com o português, o
deputado soou assim:
“É com esse sentimento de homem
público que nós estamos fazendo nesse exercício a possibilidade de
contribuirmos para um Legislativo forte, à luz daquilo que o nosso presidente
Eduardo Cunha hasteou a sua bandeira de luta, que foi a idependência do
Parlamento. Uma indendência visando a harmonia entre os poderes…”
Veterinário, Maranhão preocupa-se
com os seres de sua espécie ao discorrer sobre as deficiências do sistema de
saúde público no seu Estado: “…Nós temos que garantir, através das ações
básicas de saúde, as questõe de alta e média complexidade, um serviço à altura
da necessidade dos seres humanos.”
Tido como especialista em
educação, o deputado diz coisas definitivas sobre a matéria sem definir muito
bem as coisas. “A educação, temos que entendê-la como uma ação, uma obra
estruturante”, ensina Maranhão.
Ele prossegue: “O país precisa,
de forma muito profunda, ter as suas raízes ancoradas na educação. Uma educação
de base, uma educação que remeta ao ensino profissional, uma educação que dê
condições legítimas de o cidadão chegar à universidade, que possamos fortalecer
a nossa economia —expectativa de emprego, rendas e oportunidades outras— com
certeza é o caminho mais duradouro, o mais saudável.”
Sem tomar fôlego, Maranhão
acrescenta: “Um país que tem, hoje, o seu PIB com crescimento negativo, e isso
é até uma contradição, mas o nosso crescimento do PIB é baixo. E, hoje, a
receita em educação está na perspectiva de 10% do PIB nacional. Ora, e temos
esse crescimento pífio.”
O que fazer? Bem, Maranhão acha
que é preciso “encontrar, dentro do conjunto das ações articuladas, a
transversalidade das políticas públicas e colocar o ser humano como
centralidade, como possibilidade número um, da divergência à convergência.”
Para o vice de Eduardo Cunha, só
a Educação resgatará o Brasil: “Mas nós podemos, sim, com esse diálogo,
ampliando com a sociedade, dizer que só a educação salva. Precisamos salvar o
Brasil, precisamos salvar o Maranhão, dando ao ser humano aquele caminho,
aquele percurso, aquela —é…, assim…— aquela ferramenta legítima que é educar
para transformar e avançar cada vez mais.”
Como se vê, um eventual pedido de
licença do impensável acomodará o inacreditável na cadeira de presidente da
Câmara, o terceiro assento na linha sucessória da República. O barulhinho que
se ouve ao fundo —‘glub, glub, glub…’—é o ruído de Ulysses Guimarães se
revirando nas profundezas das águas de Angra dos Reis.
Sem comentários:
Enviar um comentário
obrigado pela sua participação grato
por sua visita!...e fique a vontade para opinar.