O Entrevistado do programa Avesso desta terça é o juiz de
Direito Gervásio Protásio dos Santos. Titular da 6ª Vara Cível, Gervásio está
afastado do cargo porque atualmente preside a Associação dos Magistrados do
Maranhão.
Com 22 anos de magistratura, Gervásio vê um crescimento
quantitativo e qualitativo importante na atuação do judiciário maranhense. Com
visão crítica, mas otimista ele afirma que “Se pegarmos a justiça do Estado do
Maranhão, eu posso dizer que nos últimos 10, 11 anos, nós demos um salto de
qualidade. É claro que estamos longe ainda de ter a qualidade que toda a
sociedade brasileira gostaria”. O juiz afirma, também, baseado em dados do
Banco Mundial que o judiciário brasileiro é um dos mais produtivos do mundo.
Gervásio Protásio fala de justiça, de polícia, de presídios,
de reforma política entre outros temas. Abaixo trechos do conteúdo da
entrevista concedida a Américo Azevedo neto.
Transparência do
Judiciário
“Na verdade hoje nós somos fiscalizados e muito
fiscalizados. As partes fiscalizam e hoje nós temos o Conselho Nacional de
Justiça e as Corregedorias Gerais, que funcionam. Nos últimos três anos tivemos
50 juízes punidos, apenas pelo CNJ.
“Por que as pessoas acionam mais a justiça hoje em dia?
Porque a justiça está mais acessível”.
“O número de ações que eu recebia no início da carreira
(1991), nem se compara com o número de
processos que eu recebo agora na 6ª Vara Cível”.
Américo – Por que a
justiça é lenta?
“Temos excesso de recursos. Nós somos o único país no mundo
que podemos ter quatro entrâncias: juiz de primeiro grau, tribunal de justiça,
STJ e STF e em cada um desses ainda se pode usar os famosos Embargos de Declaração”.
“A demanda que mais cresceu foi a ligada ao consumo. Nós
temos as agências reguladoras, ANAC, ANS, ANATEL... Se essas agências
cumprissem o seu papel constitucional e efetivamente fiscalizassem, punissem e
multassem as empresas que não atendem o direito do consumidor, certamente nós
teríamos um menor número de demandas”.
Caso Fernandinho
Beiramar
“O Maranhão não possui presídio de segurança máxima, nem
federal, nem estadual. Só por isso ele já não poderia ser transferido pra cá.
Em segundo lugar, nenhum dos 27 desembargadores tem qualquer tipo de relação
com esse tipo de elemento, posso assegurar isso em público”.
Sistema prisional do
Maranhão
“Nós temos um déficit de duas mil vagas no sistema prisional
do Maranhão. Se todos os mandados de prisão expedidos pelo judiciário fossem
efetivamente cumpridos não haveria espaço para colocação dos presos”.
“Há recursos federais para construção de um presídio no
município de Pinheiro. Esses recursos já vieram por duas vezes e retornaram ao
governo federal por falta de implementação do projeto”.
“Existem algumas situações em que o apenado deveria
permanecer mais tempo. Mas, mais tempo em um presídio em que haja condições de
ressocializar. Porque hoje nas masmorras humanas que nós temos, não há nenhuma
condição efetiva de ressocialização”.
“Se nós colocarmos hoje um garoto de 17 anos numa
penitenciária superlotada, com vários elementos perigosos; inclusive com a sua condição psicossocial ele
estará sujeito a dominação pelos mais velhos, então nós teremos um aprendiz que
sairá de lá letrado na arte do crime”.
O homem, o juiz
“É muito comum as pessoas compreenderem o magistrado como
algo automático: a lei, o fato, a decisão, só que esquecem que entre a lei e o
fato existe alguém, um ser humano”.
“O meu grande sofrimento nos meus dois primeiros anos de
magistratura, por exemplo, foi o temor que eu tinha em errar. Continuo tendo
muito medo de cometer erros, mas compreendi que errar faz parte do ser humano”.
“O que mais agrada é saber que você conseguiu resolver um
conflito. É que você conseguiu dar a alguém o que estava faltando na sua vida.
O que mais me desagrada é o fato de que em muitos casos não haver o
reconhecimento do trabalho, árduo trabalho que está por trás de uma decisão”.
“Se nós começarmos a proferir decisões de acordo com o
sentimento popular certamente poderemos cometer injustiças”.
“A gente não pode
compreender o direito penal como algo de revanche”.
Sistema político
“O nosso sistema político precisa ser aperfeiçoado, porque
nós temos distorções na nossa representação parlamentar”.
“Nós precisamos que
as Assembléias (legislativas) sejam mais efetivas, não só na fiscalização do
executivo, como do judiciário, enfim, que haja uma interação maior, porque isso
é bom pra saúde democrática”.
Ministro Joaquim
Barbosa
“O homem público deve estar com as portas sempre abertas às
críticas. Até porque, num ambiente onde não há crítica, todo elogio soa falso.
O ministro Joaquim Barbosa é um homem público, extremamente preparado, mas que
precisa trabalhar mais o seu lado democrático, trabalhar mais a possibilidade
de receber críticas”.
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