Andrew Batson e Shai Oster
The Wall Street Journal, de Pequim
A indústria siderúrgica chinesa não conseguiu fechar um acordo com os principais fornecedores mundiais de minério de ferro até ontem, quando venceu o prazo informal de renovação de contratos de fornecimento, acentuando os desafios que o país, maior responsável pelo aumento na demanda internacional de recursos naturais nos últimos anos, enfrenta ao tentar mudar o balanço de poder no mercado global de commodities.
A China, país que mais produz aço no mundo, começou as negociações anuais sobre a matéria-prima durante o auge da crise financeira, quando a cotação da commodity desabou e o horizonte da economia mundial tornou-se sombrio. A Associação de Ferro & Aço da China, instituição financiada pelo governo que coordena o setor, defendeu o corte de quase 50% nos preços de contrato do minério de ferro. Sua posição nunca mudou, mas as condições do mercado mudaram, com a maioria das siderúrgicas chinesas aumentando a produção desde o começo do ano, num sinal de que o estímulo financeiro do governo está aumentando a demanda.
A associação viu-se isolada na insistência de um corte de pelo menos 40% em relação aos preços contratados no ano passado. As maiores siderúrgicas japonesas e coreanas já fizeram acordos em separado de suprimento de minério de ferro baseados em cortes de preços entre 28% e 33%, o que as mineradoras consideram que deveria ser o parâmetro mundial.
A ArcelorMittal, maior siderúrgica do mundo, negociou uma redução de 28% no contrato assinado com a Vale SA. Poucos esperam que a China consiga um preço menor, principalmente porque muitas pequenas siderúrgicas do país ignoraram a associação e também fizeram acordos em separado.
"Ser um grande consumidor de commodities não deu à China tanto poder de influenciar preços", disse Scott Kennedy, professor de ciência política da Universidade de Indiana, dos Estados Unidos, que estuda a estratégia de negociação chinesa. "O fracasso é um sinal de que a engrenagem chinesa de política industrial tem problemas."
A Associação de Ferro & Aço da China não quis fazer comentários ontem, quando boa parte dos contratos de suprimento negociados pelo país no ano passado expiraram. Mineradoras como as anglo-australianas BHP Billiton e Rio Tinto Ltd. também se recusaram a fazer comentários sobre as negociações, mas informaram que esperam continuar a fornecer minério para a China mesmo sem contratos de longo prazo. "Se os clientes optarem por comprar no mercado à vista, eles o farão", disse o porta-voz da Rio Tinto Gervase Greene.
Com a produção de aço da China já no mesmo patamar recorde do ano passado, as siderúrgicas estão comprando mais minério de ferro no mercado à vista, puxando as importações para níveis ainda mais altos. Isso minou a posição da associação de que o mercado chinês está tão fraco que não pode aceitar um corte de preço menor que 40%. Além disso, o preço do minério de ferro importado pela China está agora 12% acima dos níveis mais baixos de abril. Eles estão mais altos até que os contratos de longo prazo negociados por outras siderúrgicas, o que faz com que pareça ter sido má aposta deixar esses acordos expirar.
"É difícil ter uma frente unida. As pequenas e médias siderúrgicas, em especial, não podem simplesmente parar a produção e esperar o resultado final da negociação", disse Zhu Fengliang, que preside uma organização de siderúrgicas na província de Shanxi.
Os problemas nas negociações do minério de ferro ocorrem depois de descarrilado aquele que seria o maior de todos os investimentos da China no exterior: uma pretendida aliança de US$ 19,5 bilhões entre a Rio Tinto e a estatal Corporação de Alumínio da China. O acordo poderia equilibrar os interesses dos compradores e vendedores de minério de ferro, ajudando a China a garantir fornecimento mais estável de materiais necessários à sua gigantesca base industrial. Em vez disso, a China agora enfrenta a perspectiva de um clima de negociação ainda mais difícil, uma vez que a Rio Tinto e a BHP Billiton trabalham para formar uma joint venture que combinaria as principais minas de ferro de ambas.
Outras aquisições chinesas de reservas de recursos naturais no exterior foram feitas este ano, e há mais a caminho. Mas não é fácil para a China ditar os termos do mercado mundial de commodities, já que está assoberbada pelas dimensões e pela diversidade de sua base industrial, assim como a força de sua demanda doméstica por recursos naturais.
"Os chineses têm uma posição invejável na negociação de minério de ferro. De certa forma, eles precisam mais dele do que precisavam antes", disse Michael Komesaroff, consultor de mineração internacional da Urandaline Investments, da Austrália.
Os preços mundiais mais baixos do minério de ferro tornaram as caras minas chinesas menos competitivas, disse ele. O resultado é que as siderúrgicas chinesas ficaram este ano mais dependentes de importações, em vez de menos dependentes. Em maio, a produção doméstica de minério de fero mostrava uma queda de 6% este ano.
Poucas siderúrgicas chinesas querem seguir agora o parâmetro recomendado pela associação para a compra de minério de ferro, disse Jia Junyan, um trader de minério de ferro da província de Shanxi. "Ninguém quer esperar e provavelmente fazer um mau acordo", afirmou. "As siderúrgicas perderam a fé na Associação de Ferro e Aço da China. Isso é constrangedor. Ninguém quer prestar atenção nela", acrescentou.
(Colaboraram Sue Feng e Ellen Zhu)

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