As guseiras têm dois anos para
implementar um sistema de monitoramento que assegure que nenhum de seus
fornecedores produza carvão com madeira de floresta nativa.
A indústria de ferro gusa do
Maranhão assinou, nesta quinta-feira, um compromisso público pelo desmatamento
zero em sua cadeia de produção. A medida veio dois meses depois que o
Greenpeace lançou o relatório “Carvoaria Amazônia”, denunciando uma série de
irregularidades ambientais e sociais no setor. Na ocasião, ativistas
passaram 11 dias em São Luís bloqueando um navio que seria carregado
com ferro gusa, a matéria-prima do aço.
Pelo acordo, as guseiras têm dois
anos para implementar um sistema de monitoramento que assegure que nenhum de
seus fornecedores produza carvão com madeira de floresta nativa ou desmate para
plantio de eucaliptos que são transformados em carvão.
“O
compromisso que a indústria de gusa está assumindo aqui não é com o Greenpeace,
mas com a sociedade e com seus consumidores. Setores que operam na Amazônia
começaram a perceber que o consumidor não tolera mais produtos que causam a
destruição da floresta”, diz Paulo Adario, diretor da campanha Amazônia do
Greenpeace.
No acordo inédito, as
siderúrgicas também se comprometem a quebrar contratos com carvoarias que
exploram mão de obra análoga à escrava ou que usam madeira oriunda de áreas
protegidas. O termo foi assinado no Palácio do Governo pelas empresas do Sifema
(Sindicato das Indústrias de Ferro Gusa do Maranhão). O vice-governador,
Washington Oliveira, e representantes dos movimentos sociais da região também
estavam à mesa.
“A
assinatura desse termo por todas as guseiras do Maranhão é um avanço
importantíssimo. A falta de governança na região de Carajás, onde o ferro gusa
é largamente produzido, é gritante. Mas esse é só o primeiro passo de um longo
processo que vamos acompanhar de perto”, afirmou Paulo Adario.
Caberá à própria indústria
construir os mecanismos de controle e monitoramento necessários para assegurar
à sociedade que o acordo está sendo cumprido. Mas tanto o Greenpeace quanto
organizações sociais da região continuarão em campo, coletando e divulgando
informações para confrontar os dados disponibilizados pelo setor.
“A rede
Justiça nos Trilhos acolhe com esperança a assinatura desse compromisso. A
partir daí, faz-se necessário um trabalho consistente de fiscalização, para o
qual o Maranhão e a União devem finalmente se dispor com responsabilidade.
Basta de impunidade”, declarou Padre Dario, da rede que representa os
movimentos sociais em Carajás. Há muitos anos, a Rede Justiça nos Trilhos
denuncia irregularidades no setor.
Uma investigação do Greenpeace
divulgada em maio mostrou que carvoarias que alimentam siderúrgicas do Pará e
do Maranhão têm envolvimento com extração ilegal de madeira, trabalho análogo
ao escravo e invasão de terras indígenas e unidades de conservação.
Em março, o Greenpeace lançou
campanha nacional por uma lei de iniciativa popular pelo Desmatamento Zero. Apoiada
por movimentos sociais, organizações indígenas e quilombolas, entidades
ambientalistas e artistas, mais de 400 mil pessoas já assinaram a petição.
Quando 1,4 milhão de assinaturas forem recolhidas, o projeto será encaminhado
ao Congresso.
Fonte:
Greenpeace, 02 de agosto de 2012
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