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Ativistas do Greenpeace estão há uma semana fazendo um protesto pacífico no navio Clipper Hope, em São Luís (MA) com o objetivo de apontar as irregularidades da cadeia produtiva do ferro gusa, matéria prima do aço. Dentre elas, constam infrações como o uso de mão de obra análoga à escravidão. Muitas pessoas têm sido recrutadas para produzir carvão vegetal sem a mínima segurança e esse material acaba alimentando as siderúrgicas da região de Açailândia, no Maranhão.
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Gilmar Rodrigues da Silva, de 49 anos, natural dessa cidade maranhense, foi resgatado da carvoaria Chapadão em março de 2010, em Rondon do Pará. Sua via sacra começou em outubro de 2009. A carvoaria onde trabalhava fornecia para a Viena Siderúrgica do Maranhão S. A., uma das maiores na região e denunciada pelo Greenpeace no relatório “Carvoaria Amazônia”. Os trabalhadores não recebiam equipamentos de proteção como botas, luvas, capacetes e máscaras para que fosse feita a retirada do carvão dos fornos.
Ele conta que havia mês que ele ganhava um salário, entretanto essa não era a regra. Ele e seus companheiros não podiam sair do local. “Somente saíamos no dia do pagamento”, relata. Geralmente, esses campos de produção de carvão vegetal ficam em locais isolados, escondidos, de difícil acesso.
As condições sociais encontradas no Maranhão potencializam cenários de desrespeito humano. De acordo com Antonio Filho, coordenador do Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos Carmen Bascaran, “há uma miséria social muito grande no Maranhão e isso acaba gerando uma mão de obra desqualificada, que se torna presa fácil para os aliciadores”.
O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de Açailândia - que abriga cinco guseiras processadoras do minério - é de 0,666. São Caetano do Sul, município do Grande ABC paulista, tem o maior IDH do Brasil: 0,919. E o Estado, que deveria coibir este tipo de atividade, é ausente na região.
As exaustivas horas de trabalho aliadas às péssimas condições de trabalho desencadeiam problemas sérios de saúde. É comum que os trabalhadores sofram com distúrbios respiratórios graves, queimaduras e até hérnia de disco. Esse é o caso de Antônio Pereira dos Santos, de 35 anos, de Açailândia, que hoje sofre com essa grave lesão na coluna. Durante 10 anos ele trabalhou em carvoarias e foi aí que ele “se acabou de se acabar.”
Este trabalhador libertado sofreu um acidente em julho de 2010 quando prestava serviços à Fazenda São Joaquim, em Itinga Maranhão. Ele retirava carvão de um forno e, devido às altas temperaturas, não teve condições de terminar o serviço.
Suas pernas adormeceram, conta, e durante cinco meses não pôde caminhar. Foram necessários três dias para que ele fosse removido da carvoaria por uma moto que não tinha freio. Santos moveu um processo trabalhista contra a Viena Siderúrgica, no qual foi derrotado.
“Agora estou sendo sustentado pela minha mulher. Minha situação é muito precária, não posso trabalhar” diz Santos. “Em Açailândia, se a gente fala a verdade, a Justiça não acredita em você e a gente pode amanhecer até morto por aí.”
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