A obesidade é um
problema de saúde pública mundial, complexo e multifatorial. Ela não pode ser
reduzida a uma questão de escolha individual, já que envolve fatores
biológicos, ambientais, genéticos e também de desigualdades sociais,
econômicas, territoriais, raciais e de gênero.
Durante muito tempo, a obesidade foi considerada apenas como resultado
do desequilíbrio entre consumo alimentar e gasto energético. Hoje se reconhece
que o excesso de gordura corporal ocorre por uma série de condições estruturais
e contextuais que vão muito além do peso do indivíduo.
Ações para prevenção e
cuidado
Desde 2006, o
Ministério da Saúde vem ampliando as ações de prevenção e cuidado às pessoas
que vivem com obesidade, em especial na Atenção Primária à Saúde (APS). Entre
as iniciativas, estão:
Repasses de incentivos
financeiros aos estados e municípios;
Ofertas de cursos de
qualificação para profissionais de saúde;
Ampliação e
qualificação da vigilância alimentar e nutricional para monitorar o estado
nutricional da população;
Apoio técnico para
organização da oferta de serviços e qualificação dos profissionais nos estados
e municípios para o diagnóstico e assistência às pessoas com obesidade;
Promoção da
alimentação adequada e saudável e de práticas corporais e atividade
física;
Articulação
intersetorial no âmbito federal para construção de políticas públicas que
incidam sobre os determinantes sociais que incidem sobre a população.
Na Atenção Primária,
foram realizados 187,4 milhões de atendimentos em 2022, dos quais 6,2 milhões
estavam relacionados à obesidade. Em 2023, esse número chegou a 230,2 milhões
de atendimentos, sendo 7,7 milhões ligados à doença. Já em 2024, foram 240,1
milhões de assistências, com 7,8 milhões voltados a casos de excesso de peso.
Os atendimentos
ambulatoriais e hospitalares também aumentaram, passando de 83.541 em 2023 para
126.377 em 2024. O acompanhamento do peso e da altura da população é outro
indicador importante. Em 2022, 45,6 milhões de pessoas foram avaliadas; em
2023, 53,6 milhões; e em 2024, 59,2 milhões, mostrando um esforço crescente na
vigilância nutricional.
No Sistema Único de
Saúde (SUS), o cuidado às pessoas com obesidade é conduzido principalmente pela
atenção primária, com foco na prevenção e promoção da saúde. As ações se
baseiam nos Guias Alimentares para a População Brasileira, para Crianças e no
Guia de Atividade Física. Entre as estratégias de destaque está a Amamenta e
Alimenta Brasil (EAAB), que qualifica o cuidado e incentiva a amamentação e a
alimentação complementar saudável para crianças menores de dois anos.
Para a coordenadora-geral
de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Kelly Alves, é essencial
discutir como a obesidade se tornou uma condição crônica que acomete a
população desde a infância. “Essa questão está ligada às condições de vida da
população e às possibilidades de fazer as melhores escolhas de alimentação,
atividade física e sono. Ainda enfrentamos barreiras estruturais que dificultam
uma rotina saudável. Por isso, é importante mostrar que não se trata de uma
decisão individual, nem de falta de força de vontade”, alerta.
A coordenadora também
chama atenção para os fatores que contribuem para o aumento da obesidade.
“Muitas vezes, os alimentos processados e ultraprocessados custam menos. Além
disso, a falta de tempo é um obstáculo, gastamos muito com deslocamentos para o
trabalho e a escola, o que reduz o tempo disponível para planejar e preparar as
refeições”.
Programas, ações e
diagnóstico precoce
O tratamento da
obesidade conta com a articulação de diferentes áreas do governo. O Ministério
da Saúde atua em conjunto com outros ministérios e órgãos para construir
políticas públicas e melhorar as condições de vida da população:
Com o Ministério da
Educação, por meio do Programa Saúde na Escola;
Com o Ministério do
Desenvolvimento Social, por meio do Programa Bolsa Família;
Com o Ministério do
Desenvolvimento Agrário e da Agricultura, para impulsionar a produção da
agricultura familiar e agroecológica;
Com o Ministério da
Fazenda, na reforma tributária, visando reduzir impostos sobre alimentos saudáveis.
Uma das principais
responsabilidades do Ministério da Saúde é garantir o cofinanciamento do SUS.
Embora a oferta dos serviços seja de responsabilidade dos municípios, cabe ao
governo federal colaborar financeiramente para o funcionamento da rede. O novo
modelo de cofinanciamento da Atenção Primária fortalece os municípios na oferta
de serviços e se articula com políticas como o programa Agora Tem
Especialistas.
Além disso, as novas
unidades de saúde previstas pelo Novo PAC Saúde e o aumento das equipes de
saúde no SUS têm impacto direto no enfrentamento da obesidade, facilitando o
diagnóstico precoce, as orientações preventivas e o acompanhamento contínuo.
Quanto maior a cobertura da atenção primária, maior é a capacidade de prevenir
e tratar a obesidade de forma qualificada.
Investir em ações de
prevenção e promoção da saúde é fundamental para desacelerar o avanço da
obesidade no Brasil, e garantir o cuidado integral à população, princípio
essencial da rede pública.