Escorrega pelos dedos o tempo de
divergir.
Provamos a dor, a insegurança, e
a inaceitável fraqueza que nos escandaliza.
Sentimos pelo escândalo
silencioso, Pela mancha na história, pela memória ferida, pela fúria
imobilizada.
Somos nós, vítimas da fome e da
ilusão.
Somos povo? Ou somos isca?
O legado é abundante. A beleza
incomum.
As riquezas incalculáveis. Em
tempos passado o dragão nos apavorava
Mais já o enfrentamos! As vozes
eram ceifadas, Mas já as erguemos!
Os inimigos eram cruelmente
identificados, E nós não nos deixávamos seduzir.
As bandeiras eram aprisionadas. Mas,
o desejo de liberdade as multiplicavam!
(Diva Lopes in Tempo de divergir).
Nos dias 24 e 25 de junho, cerca
de 40 jovens de comunidades maranhenses, que são atravessadas pela Estrada de
Ferro Carajás (EFC), estiveram reunidos em Açailândia (MA), no Encontro da
Juventude Atingida pela Mineração.
A ferrovia, construída na década
de 1980, é utilizada para o transporte do minério de Carajás, Pará, até o Porto
do Itaqui, no Maranhão e corta 27 municípios. Muitas das comunidades
localizadas nesses municípios já existiam anteriormente à construção da ferrovia
e tem convivido com os impactos de sua operação.
Para o jovem Eduardo Machado,
morador do assentamento Planalto I, do município de Açailândia, os impactos se
apresentam de formas parecidas ao longo do Corredor Carajás. “O pessoal é
atingido do mesmo jeito, só o jeito de contar é que é diferente… nosso
assentamento não é bem próximo, mas a gente tem que vir para a região de
Açailândia e de todo jeito tem que atravessar a ferrovia. Às vezes quando a
gente vem, o trem tá parado bem na travessia, o ônibus tem que esperar ou fazer
um desvio para uma estrada muito ruim…”
Ele ressalta ainda a falta de
respeito da empresa Vale S.A pela população que vive às margens da ferrovia.
“Ela [Vale] não imagina que naquelas terras, onde ela quer construir, tem
pessoas e elas tem sua história. Ela só passa por cima, não quer saber como foi
a história daquele lugar, porque aquelas pessoas gostam de morar lá. Quando as
pessoas se manifestam querem processar, dizer que as pessoas estão erradas.”
A própria construção da ferrovia
feriu direitos à terra e ao território destas populações já que não as levou em
consideração, não foram consultados e até os dias atuais os impactos sofridos
não foram reparados. Desde 2011, a empresa Vale S.A implementa obras de grandes
proporções que objetivam a duplicação da EFC em toda a sua extensão, fator que
tem aumentado as violações já existentes e provocado novos impactos tanto
sociais quanto ambientais.
A Estrada de Ferro Carajás faz
parte da infraestrutura construída pelo o Programa Grande Carajás, um projeto
de exploração mineral, iniciado durante o período da ditadura militar no
Brasil. Foi oficialmente lançado em 1982, com o intuito de explorar de forma
integrada os recursos da província mineralógica de Carajás, considerada a mais
rica do mundo. Para dar suporte ao Programa foi construída também a Usina
hidrelétrica de Tucuruí (Pará) e o Porto de Ponta da Madeira, localizado no
Porto do Itaqui, na capital do Maranhão, São Luís.
Altina de Abreu, mora em uma
comunidade do município de Bom Jardim (MA). Ela ressalta que o Encontro da
Juventude foi um momento de aprendizagem, de troca de saberes e de
questionamentos. “Participando da formação eu percebi que as pessoas exploram
os recursos naturais, elas estão sendo felizes porque estão obtendo capital,
dinheiro sobre aquilo, mas quem tá ficando lá atrás com o resto, com a miséria
que fica, com a pobreza para essas pessoas que tem suas comunidades cortadas
pela estrada de Carajás? Porque o que fica é isso, é a miséria e a pobreza para
as pessoas que lá moram.”
Por Idayane Ferreira
Assessoria de Comunicação
Rede Justiça nos Trilhos
Acesse:www.justicanostrilhos.org
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