Vinte e cinco anos depois da
'Advertência dos cientistas do mundo à humanidade', um novo alerta, dado nesta
segunda, tem um quê de ultimato.
Mais de 15 mil cientistas de
quase 200 países assinaram o alerta climático.
Foi como o anúncio de mais uma
entre tantas refilmagens de sucessos de anos e anos atrás, ou sequência de
franquia de ficção científica retomada décadas depois do auge da febre do
gênero, para atender ao clima de revival dos anos 80, início dos 90, tão em
voga em hoje em dia, talvez como ilusória válvula de escape para esses tempos
aziagos, de exacerbação das ameaças à civilização, como o “neo-assanhamento” fascista
e o rufar dos tambores nucleares. O problema é que, em matéria mesmo de
biosfera, o alerta com cara de ultimato que a humanidade acaba de receber,
nesta segunda-feira, 13, com cara de sexta, não é coisa de cinema catástrofe,
tornando ainda mais sufocante, e sem escapatória que não seja a ação, o fardo
do indicativo presente.
“Advertência dos cientistas do
mundo à humanidade: um segundo aviso”. Esse é o título de um artigo publicado
nesta segunda na prestigiada revista BioScience por mais de 15 mil signatários
de 184 países. O documento, sucinto, mas fundamentado em dados de agências
governamentais, organizações sem fins lucrativos e pesquisadores independentes,
traz a constatação de que “a humanidade fracassou em fazer progressos
suficientes” para reverter nada menos que “a tendência ao colapso da
biodiversidade”.
O aviso é o segundo porque a
primeira “Advertência dos cientistas do mundo à humanidade” foi feita
exatamente 25 anos atrás, quando 1.500 cientistas, incluindo muitos dos
laureados com o prêmio Nobel nas ciências, “descreviam como estávamos
rapidamente nos aproximando de muitos dos limites do que o planeta pode tolerar
sem danos substanciais e irreversíveis”, e “imploravam” por ações que fossem
tomadas a tempo. Agora, no “segundo aviso”, um número dez vezes maior de
cientistas avalia assim como foi a “resposta humana”:
“Desde 1992, com exceção da
estabilização da camada de ozônio estratosférico, a humanidade fracassou em
fazer progressos suficientes na resolução geral desses desafios ambientais
anunciados, sendo que a maioria deles está piorando de forma alarmante.
Especialmente perturbadora é a trajetória atual das mudanças climáticas
potencialmente catastróficas, devidas ao aumento dos gases de efeito estufa
(GEE) emitidos pela queima de combustíveis fósseis, desmatamento e produção
agropecuária – particularmente do gado ruminante para consumo de carne. Além
disso, desencadeamos um evento de extinção em massa, o sexto em cerca de 540
milhões de anos, no âmbito do qual muitas formas de vida atuais podem ser
aniquiladas ou, ao menos, condenadas à extinção até o final deste século”.
‘Estabilizar a população humana’
Por outro lado, o “segundo
alerta” mostra que nem tudo são espinhos: se por um lado está mais curta, hoje
do que há 25 anos, a distância para o ponto irreversível, por outro lado há
sinais de que a humanidade pode, sim, ser capaz de garantir a existência das
futuras gerações. Entre esses sinais, além do rápido declínio da emissão de
substâncias que destroem a camada de ozônio, estão, por exemplo, o rápido
crescimento do setor de energia renovável, o declínio das taxas de desmatamento
em várias regiões do globo e, em outras tantas, a diminuição da taxa de
fecundidade.
“Estabilizar a população humana”
é um ponto em que os signatários do documento insistem bastante, dizem que é
necessário melhorar, e muito, “garantindo que as mulheres e os homens tenham
acesso à educação e a serviços de planejamento familiar voluntário,
especialmente onde tais serviços ainda não estão disponíveis”.
O artigo enumera ainda vários
outros “passos diversos e efetivos que a humanidade pode dar para uma transição
em direção à sustentabilidade”, desde “promover transições na dieta na direção,
sobretudo, de uma alimentação à base de plantas” até “renaturalizar regiões com
espécies nativas, especialmente predadores do ápice da pirâmide alimentar, para
restaurar processos e dinâmicas ecológicas”, passando pelo fim dos subsídios à
produção de energia através de combustíveis fósseis e voltando a ela, a redução
da taxa de fecundidade: “estimar um tamanho de população humana cientificamente
defensável e sustentável a longo prazo, reunindo nações e líderes para apoiar
esse objetivo vital”.
Os signatários do “segundo
aviso”, porém, parecem não esperar que essas iniciativas partam, com a
radicalidade que se impõe, dos mais importantes líderes mundiais. Não
espontaneamente; não em um momento em que o presidente do país mais
industrializado desse planeta agonizante trata o aquecimento global como “fake
news”:
“Dado que a maioria dos líderes
políticos é sensível à pressão, os cientistas, os formadores de opinião nas
mídias e os cidadãos em geral devem insistir para que seus governos tomem
medidas imediatas, como um imperativo moral em relação às gerações atuais e
futuras da vida humana e de outras espécies.
Com uma vaga de esforços organizados e popularmente embasados, é
possível vencer oposições obstinadas e obrigar os líderes políticos a fazer o
que é certo. Também é hora de reexaminar e mudar nossos comportamentos
individuais, incluindo a limitação de nossa própria reprodução (idealmente, o
nível de reposição no máximo) e diminuir drasticamente nosso consumo per capita
de combustíveis fósseis, de carne e de outros recursos”.
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