Piquiá de Baixo: como começou a
mobilização.
Cidade do Vaticano (RV) - Existe
uma comunidade na cidade de Açailândia, no Maranhão, chamada Piquiá de Baixo.
Há mais de 25 anos, seus os moradores são vítimas de doenças respiratórias, nos
olhos e na pele, contraem câncer e sofrem diversos tipos de incidentes. Ao lado
de suas casas, na década de 80, começaram a se instalar indústrias
siderúrgicas. As atividades destas empresas não respeitam os requisitos de
cuidado com a saúde e a segurança.
O caso é apresentado na Europa
No último dia 27 de fevereiro/2017,
o caso foi levado às Nações Unidas, em Genebra, por Joselma Alves de Oliveira,
moradora de Piquiá, membros da Federação Internacional dos Direitos Humanos
(FIDH) e pelo missionário comboniano Pe. Dário Bossi, membro da rede Igrejas e
Mineração, grande apoiador da comunidade nesta luta.
A delegação prosseguiu sua viagem
na Europa com dois encontros importantes: em Milão, discutiram as consequências
da produção de ferro-gusa sobre a saúde com o Instituto dos Tumores, que
possivelmente vai incluir o estudo sobre a saúde dos moradores do bairro em uma
publicação. Joselma e Pe. Dario também estiveram com o Card. Peter Turkson,
Presidente do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano,
falando sobre a necessidade de apoio a todas as comunidades que sofrem os
violentos impactos da mineração na América Latina.
“Desde 1960 já tinham as
primeiras famílias...mas sempre em primeiro lugar vem o financeiro, geralmente
os governos se preocupam mais com lucros do que com vidas, as pessoas. A
comunidade então entrou em consenso, para nós aquilo se tornou inviável. E aí
aquela estória: ‘os incomodados que se mudem’. Hoje em dia não temos mais
qualidade de vida e mesmo com estes empreendimentos dentro do nosso bairro, a
comunidade é extremamente pobre e desassistida, sem saneamento básico... Vimos
a necessidade de lutar, de se organizar para poder sair desta localidade”.
“É um processo lento e difícil,
já temos mais de 8 anos lutando só pelo processo do reassentamento. É muito
tempo para esta comunidade que está sendo agredida diariamente com os impactos
ambientais que ocorrem todos os dias: níveis de poluição super elevados,
emissão de gases, particulados... É um processo difícil, que requer a
mobilização para conseguirmos este objetivo”.
“O que fica para a comunidade são
os trabalhos pesados, os braçais, os mais severos, os mais difíceis. Quando
chegam às comunidades, vêm com uma história de que vão melhorar a qualidade de
vida, o trabalho, que vai ter uma porcentagem de trabalho para a comunidade,
mas na verdade isto não acontece. Iludem também os jovens dizendo que vão
capacitar, mas na verdade isso não acontece. O que fica para a comunidade de
Piquiá de Baixo são os impactos ambientais, as doenças.. é muito desgastante
para a comunidade viver desta forma... então, a nossa opção é lutar”.
“A gente nunca conseguiu nada
assim porque alguém falou: pega, isso aqui vai ajudar vocês. Tudo foi com
mobilização e luta. Nada fácil. Eu gosto de falar assim. ‘No dia em que eu
chegar lá na casa, no novo bairro, para mim vai ter um significado diferente,
porque eu sei o tamanho da luta que foi para conseguir o tamanho da rua, o
tamanho da casa, a infraestrutura, tudo... tem um sabor diferente. Na minha
sala, quando eu sentar e olhar, vou pensar: este teto me custou caro, tive que
correr muito’”.
(CM)
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