A Rússia espera como as águas de
março a chegada de Donald Trump à Casa Branca, depois que o presidente em fim
de mandato, Barack Obama, aprovou pouco antes de deixar o cargo uma nova série
de sanções contra o Kremlin.
"A primeira coisa que (o
presidente russo, Vladimir) Putin e Trump têm que fazer é se reunir o mais
rápido possível para iniciar o processo de degelo", disse à Agência Efe
Anatoli Adamishin, que foi vice-ministro das Relações Exteriores soviético
entre 1986 e 1990.
A vitória de Trump foi um alívio
para o Kremlin, que esperava o pior em caso de vitória da ex-secretária de
Estado, Hillary Clinton, a quem Putin acusou de instigar os protestos
antigovernamentais de 2011.
Trump não renegou o líder russo
nem mesmo nas últimas semanas, quando as agências de inteligência lhe
apresentaram supostas provas sobre a intervenção russa nos ciberataques ocorridos
durante a campanha eleitoral americana.
Isto dá esperanças ao Kremlin,
que declarou "guerra fria" ao governo Obama há vários meses, depois
que este suspendeu a cooperação bilateral na Síria após o fracasso da enésima
iniciativa de cessar-fogo.
Com a passagem dos anos, ficou
claro que Putin e Obama nunca chegariam a se entender, nem a simpatizar, ao
contrário do que tinha ocorrido com o ex-chefe do Kremlin, Dmitri Medvedev
(2008-2012), com o qual os EUA lançaram o "reinício" das relações.
No entanto, a nova rodada de
sanções e expulsões de diplomatas decididas pelos EUA pelos ciberataques,
medidas que Moscou não hesitou em qualificar de "agonizantes", não
será um empecilho para Trump.
Esse é a mensagem que Putin
lançou ao se negar a responder com medidas simétricas, e inclusive ao convidar
os filhos dos diplomatas americanos para ir ao Kremlin no Natal, à espera de
que o novo presidente assuma o cargo e descubra suas cartas.
"Pelo menos, Trump disse que
está aberto ao diálogo. Isso não significa que queira que nos ponhamos de
acordo em tudo. Será difícil, e não é o que esperamos. Mas dialogar é o que nos
ajudará a encontrar uma saída a situações difíceis", declarou o porta-voz
do Kremlin, Dmitri Peskov.
"Esperamos que os
presidentes se deem bem", acrescentou Peskov depois que Trump comentou em
entrevista coletiva que quer se tornar amigo de seu homólogo russo.
Não se esperam milagres, mas uma
comunicação fluente, razão pela qual ambas partes já estão combinando a
primeira conversa telefônica após a posse, que deve abrir passagem a sua
primeira reunião.
Nenhuma das partes quer falar de
reinício, mas de uma folha de papel em branco, já que Trump quer voltar atrás
em muitas das políticas de Obama, o que também poderia ser uma faca de dois
gumes nas relações entre Moscou e Washington.
"Trump é um pragmático. Se
Hillary tivesse ganhando, poderíamos ter tido enfrentamentos militares",
ressaltou Adamishin.
A Síria não deve ser um problema
para a nova administração da Casa Branca, já que o acordo de cessar-fogo entre
o regime de Bashar al Assad e a oposição armada é um fato e Aleppo já foi
retomada pelas forças governamentais.
A Ucrânia, o ponto da discórdia
durante muito tempo, segundo Adamishin, não é para Trump um "troféu
geopolítico", como teria sido para Hillary.
"Trump não renunciará à
hegemonia mundial, mas quer que a liderança lhe saia mais barato. O custo
econômico conta. Para ele o realmente importante será a política interna. Será
mais isolacionista", explicou.
Onde pode haver problemas é na
China, já que Trump disse que quer revisar as relações com o gigante asiático,
que é o principal parceiro comercial da Rússia.
"Trump tem três inimigos:
China, Irã e Cuba. Se a Rússia disser que é amiga desses países, então se
transforma automaticamente em inimigo dos EUA", ressaltou Adamishin.
A Rússia, por exemplo, defende a
suspensão do embargo a Cuba, enquanto Trump não parece disposto a seguir
adiante com a normalização das relações empreendida por Obama se não houver
avanços claros em matéria de direitos humanos.
Fonte: EFE
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