CUSTOS MAIS BAIXOS DE PESSOAL,
BUROCRACIA MAIS LEVE E IMPOSTOS LEVAM A RENDA E OS EMPREGOS PARA SEREM GERADOS
NO PAÍS VIZINHO.
Enquanto o desemprego no Brasil
cresce por dois anos seguidos devido aos problemas políticos e a má condução da
economia que, só agora, passou a ser tratada com respeito aos bons preceitos
econômicos, o Paraguai, que fez o seu dever de casa, recebe as indústrias
brasileiras, que estão abrindo novas fábricas e criando milhares de novos
empregos diretos num país que, até pouco tempo, não era atrativo. No entanto,
com boas políticas públicas e, aproveitando a proximidade com o Brasil, está se
tornando uma plataforma de produção barata e livre de burocracia para o
abastecimento do mercado de consumo brasileiro.
É a estratégia inteligente de
atrair investimentos e empregos ao abrir mão da cobrança de impostos e
simplificar a instalação de empresas que tem dado certo naquele país. A
denominada “lei da maquila”, que garante o pagamento de apenas 1% de
tributo para às companhias que abrirem
fábricas no Paraguai e exportarem 100% da produção, está em vigor desde 1997,
mas, existem outras vantagens adicionais
que incluem gastos menores com mão de obra e energia elétrica. O salto
quantitativo deste programa, porém, se deu justo nos últimos três anos, quando
a economia brasileira começou sua carreira de caranguejo.
O total de empregos gerado pelas
“maquiladoras” ainda é pequeno, em comparação ao tamanho da economia
brasileira, contudo, o ritmo de
migração de investimentos do Brasil para o Paraguai está em aceleração. Das 124
indústrias incluídas no programa de maquilas, 78 abriram as portas desde 2014.
Dos 11,3 mil empregos gerados pelo programa, 6,7 mil são fruto dos
investimentos dos últimos três anos. E existem mais projetos de expansão que
devem gerar milhares de vagas em 2017.
A CHINA DA AMÉRICA DO SUL
A transformação do Paraguai numa
“China da América do Sul” é um projeto do presidente Horacio Cartes, no poder
há três anos. A prioridade de Cartes – que é um dos empresários paraguaios mais
ricos – é gerar empregos para a mão de obra paraguaia. Mais de 70% da população
de 6,8 milhões de habitantes tem menos de 30 anos e boa parte ainda atua na
informalidade. A estratégia é elogiada pelo setor produtivo. Cartes, porém,
enfrenta críticas por ter abandonado programas sociais, em especial no
interior. Até enfrenta passeata com cartazes de “Fora Cartes”. Uma recente
pesquisa põe o índice de popularidade do presidente em 23%, um dos mais baixos da
América Latina. Além disto, o socialista Fernando Lugo, deposto em 2012, é um
nome que ganha força para as eleições de 2018.
O discurso do governo paraguaio é
que o programa de maquilas visa a construir uma parceria com o Brasil. “A ideia
é que nós venhamos a substituir os produtos que as empresas brasileiras hoje
trazem da China”, diz o ministro da Indústria e Comércio do país, Gustavo
Leite. Muitas são as empresas brasileiras que estão usando o Paraguai para
substituir importações chinesas. Uma delas é a Riachuelo. Ela viabilizou a
Texcin, indústria montada pelo paraguaio Andrés Gwynn, que emprega 400 pessoas
e produz 300 mil peças ao mês. Mas, o contrato de dez anos com a Riachuelo
prevê que, dentro de um ano e meio, a produção seja elevada a 1 milhão de
unidades. Com isto, os funcionários chegarão a 1,5 mil.
Gwynn conta que teve a ideia de
atrair a Riachuelo ao Paraguai ao ver a foto do presidente da empresa, Flávio
Rocha, em uma banca de revista no Aeroporto de Guarulhos. O empresário ligou
para a secretária de Rocha e, após alguns dias de insistência, conseguiu uma
reunião de cinco minutos para apresentar as vantagens do Paraguai. “Acabamos
conversando o dia todo”, lembra Gwynn. As indústrias que enfrentam forte
concorrência de produtos baratos vindos da Ásia – como materiais plásticos,
brinquedos e confecções – estão entre as mais propensas a aproveitar as
vantagens da lei das maquilas. Uma das pioneiras do movimento foi a X-Plast,
que fechou a unidade no interior de São Paulo e se instalou há três anos em
Ciudad del Este, a 4 km da fronteira com Foz do Iguaçu. As marcas brasileiras
Bracol e Fujiwara, de sapatos para trabalhadores industriais, decidiram
aproveitar as vantagens de custo do Paraguai em 2014. Elas são sócias de Andrés
Gwynn na Marseg. A empresa chegou a ter 1,5 mil empregados. Com a crise no
Brasil, que afetou em cheio a indústria, cortando mais de 30 mil empregos
apenas em montadoras, a Marseg reduziu os funcionários para 800. Uma coisa é
certa: o modelo de política de desenvolvimento industrial adotado pelo governo
paraguaio deve servir de exemplo para medidas efetivas destinadas a recuperar a
competitividade da indústria brasileira.
Fonte; O Estado de São
Paulo/Ilustração: Fábio Campana
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