Quem não viu fotos da jornalista
Claudia Cordeiro Cruz, a mulher do ex-deputado federal Eduardo Cunha, postadas
no Facebook e que delatavam as viagens internacionais do casal, regadas a
gastos milionários com o cartão de crédito, e que levaram procuradores da Lava
Jato a associar as viagens a contas na Suíça? Por mais que pareçam ostentação,
as “delações” espontâneas pelas redes sociais parecem ter virado febre e não se
restringem ao mundo da política ou dos famosos.
Elas têm sido um dos pontos de
partida para investigadores privados correrem atrás do patrimônio oculto de
caloteiros, que sumiram com seus bens para evitar pagar empréstimos que pegaram
nos bancos.
Enquanto Claudia Cruz desfilava
com suas fotos em Paris, Dubai e Roma, em Campinas, interior de São Paulo, um
empresário italiano, dono de um negócio de robôs dançantes, não podia imaginar
que a foto de sua família à beira da piscina pudesse comprometer o patrimônio
que tinha colocado no nome de terceiros para evitar pagar uma dívida
milionária. A foto, publicada por um parente no Facebook, revelava os contornos
de uma piscina curvilínea, muito diferente das tradicionais.
O aspecto pouco comum do pátio
foi suficiente para que uma mansão fosse identificada por meio do Google Earth,
o dispositivo do Google que mostra imagens da terra capturadas por satélite. A
partir daí, os investigadores da Jive Investments, que administra R$ 800
milhões em fundos que compram créditos inadimplentes de bancos, conseguiram
desbaratar o patrimônio do empresário que estava na mão de terceiros.
A Jive tem oito mil créditos para
cobrar e, segundo Guilherme Ferreira, sócio da gestora, nenhum deles fica
esquecido. A tática é justamente fazer com que a pessoa esqueça e baixe a
guarda. “Depois de tanto tempo rolando um processo, a pessoa nem percebe que
está se expondo”, diz Ferreira. A rede social é o ponto de partida para saber
que tipo de vida a pessoa leva, por onde circula, se tem dinheiro, que tipo de
compras e que viagens faz. Mas as investigações vão além. Saber da paixão pelo
time de futebol pode ser bastante útil, por exemplo.
Os juízes hoje podem impedir que
um cidadão vá assistir ao jogo no estádio, bloquear passaporte, carteira de
motorista ou mesmo o cartão de crédito, se houver uma dívida que não foi paga.
Tudo isso tem o efeito de trazer o devedor para a negociação. Qualquer quantia
que os gestores de fundo recuperem, pode fazer os fundos darem saltos de
rentabilidade. Mas não é só no setor privado que as investigações são
ferramentas para recuperar crédito.
No ano passado, a
Procuradoria-geral do Estado de São Paulo iniciou uma força-tarefa para provar
aos juízes que empresas estão usando inúmeros CNPJs para despistar dívidas com
o Fisco estadual. A subprocuradora-geral, Maria Lia Pinto Porto Corona, diz que
a equipe já conseguiu pelo menos uma vitória ao demonstrar ao juiz que
diferentes supermercados que sofreram atuações fiscais pertenciam ao mesmo
grupo, o Futurama. Conseguiram assim que o juiz permitisse a penhora de parte
do faturamento da empresa.
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